quarta-feira, 1 de abril de 2015

Porque devemos ler "Histórias Extraordinárias" de Edgar Allan Poe?

Recentemente fiz um post divulgando a minha lista pessoal de livros para lermos no clube. A lista indica livros para escolhermos em comum acordo e acrescenta outros nove à lista da Luma (já que temos um título em comum). Entre os dez títulos que escolhi, estou mais inclinada a ler Um médico Rural, do Kafka ou Histórias Extraordinárias, do Edgar Allan Poe. Sobre este último, estou bastante curiosa por conta de um texto que li na internet (aquele que linkei no post anterior, veja aqui) e também por causa de um vídeo, sobre o qual falo mais adiante. Resolvi, então, fazer este post para defender porque devemos ler Histórias Extraordinárias! Sitam-se à vontade para fazer o mesmo sobre seus livros e talvez nossos textos sirvam para despertar na outra a vontade de ler um livro que inicialmente talvez não quiséssemos ler... Essa é a ideia do meu post. 

Não encontrei nenhum dos dois livros citados acima para comprar, nem nas livrarias, nem no Kindle. Na verdade encontrei o do Kafka em espanhol no Kindle e uma versão infantil do livro do Poe na Saraiva do Plaza, em Niterói. Nenhuma das duas edições me agradou e eu não vou mais nos sebos daqui de Nikiti porque livros de literatura geralmente estão em péssimo estado e custam um preço que não vale a pena (outro tema legal para um post: sebos? Fica a ideia).

Bom, então vamos lá: porque devemos ler Histórias Extraordinárias do Poe? Além do fato do Poe ser um escritor famoso e consagrado e estar em várias listas de autores obrigatórios, é claro.



1º MOTIVO Uma das histórias de Histórias Extraordinárias narra sobre uma noite em que vários homens se reúnem na calada da noite para realizar algo que há muito aguardavam: examinar uma múmia. Qual é a surpresa de todos quando, ao aplicar choques no morto, como parte de uma experiência, ela acorda e começa a conversar com todos eles. Os homens tentam provar, nessa discussão, que são mais evoluídos do que os antigos egípcios. (essa sinopse, tirei do post sobre esse livro, do blog Policial da Biblioteca, o mesmo linkado acima e no post anterior, o da minha lista). Esse conto se chama "Pequena palestra com uma múmia" e foi escrito em 1845.

Por que esse é um bom motivo?  Considero essa sinopse do blog Policial da Biblioteca por si só um bom motivo para ler o livro todo. Gosto da permissividade da história (uma múmia batendo papo?) e também da ideia do encontro de duas gerações tão distantes e distintas, que são os egípcios antigos e os homens modernos. Além disso, o assunto da discussão é muito interessante: qual das duas sociedades é mais sábia? Quem vai vencer essa discussão e por quê? Algo para se realizar somente no campo da literatura mesmo. 

2º MOTIVO O conto "O Gato Preto" é um estudo da psicológica da culpa. Sinopse: tomado pelo álcool, um homem mata seu próprio gato, Plutão (sinopse mega resumida, até porque não li o conto e não sei como é).

Por que esse é um bom motivo? Sério, quem não quer ler um estudo da psicologia da culpa em forma de conto fantástico cujo personagem principal é um gato preto chamado Plutão?! Poe teve uma enorme ressonância na história da literatura. Mário de Andrade, Machado de Assis e Júlio Cortázar escreveram sobre o cara. Veja se esse trecho, início do conto "O Gato Preto", não lembra um nosso autor muito conhecido, no estilo:
"Não espero nem solicito o crédito do leitor para a tão extraordinária e no entanto tão familiar história que vou contar. Louco seria esperá-lo, num caso cuja evidência até os meus próprios sentidos se recusam a aceitar. No entanto não estou louco, e com toda a certeza que não estou a sonhar. "

3º MOTIVO O Poe não foi o primeiro grande escritor de contos de horror e histórias do macabro, mas ele foi o primeiro a contar histórias a partir da perspectiva e um louco. Vários de seus contos são narrados por um narrador completamente maluco. (Fonte: essa informação, do jeitinho que está escrita, tirei desse vídeo, do canal Tiny Little Things, da Tatiana G Feltrin, o mais famoso canal literário do youtube. Se vc não conhece, trata de dar um jeito nisso!).

Por que esse é um bom motivo? Como Poe conseguiu realizar isso literariamente? Isso é no mínimo, muito interessante.

4º MOTIVO Poe é o inventor do modern short story. A ideia do contro moderno, segundo Poe é que cada frase do conto deve contribuir para um efeito singular.

Por que esse é um bom motivo? Porque vc quer conhecer os contos desse cara que simplesmente moldou o formato do conto moderno, oras.

5º MOTIVO Esse motivo é muito interessante. Charles Dickens era um grande fã de Poe quando este nem era tão famoso. Um dia, Dickens, quando viajou para a América, quis aproveitar para conhecer seu ídolo. Ele conseguiu conhecer o Poe e reza a lenda que Dickens, no dia, estava muito triste por conta do falecimento recente de seu animalzinho de estimação, que ele e sua família tanto amavam e a quem dedicavam muita atenção e carinho. Qual não foi a surpresa de Poe quando, se perguntando sobre se era um cachorro ou talvez um gatinho, Dickens não disse que era um... corvo! Na época, Poe trabalhava num poema chamado Lenor (frequentemente traduzido por Leonora) e daí ele foi lá e incrementou o poema adicionando um corvo e dando formato ao poema "O Corvo" tal qual o conhecemos hoje.

Por que esse é um bom motivo? Não sei se esse é um bom motivo para ler Histórias Extraordinárias, mas essa história e muito boa. rs. 

Bom, esses foram meus motivos para ler o livrinho de contos do Edgar Allan Poe. E aí, convenci?!

Recomendo fortemente que assistam aos vídeos da Tati G Feltin: 10 coisas que talvez vc não saiba sobre Edgar Allan Poe e o vídeo 10 things you may not know about Poe. Como podem ver, os títulos são iguais. Na verdade, a Tati G Feltrin simplesmente traduziu o vídeo de uma youtuber australiana, que também tem um ótimo canal literário no youtube, o Words of a Reader. Nos vídeos, vcs vão reconhecer algumas informações que coloquei aqui.

Gostaria de fechar esse post com uma citação de Tzvetan Todorov, tirado de "Introdução à Literatura Fantástica". Ele define o fantástico como sendo "a hesitação experimentada por um ser que só conhece as leis naturais, em face de um acontecimento aparentemente sobrenatural".

Acabei pensando num motivo extra para ler Poe: para conhecer algo além das leis naturais.

domingo, 29 de março de 2015

Lista de livros por Érica

Enrolei, enrolei, enrolei, mas aí está a minha lista. Em parte enrolei porque fiquei querendo modificá-la o tempo todo. Tirar isso, por aquilo. Também pensei e colocar um resumo de cada livro. Acabou que não fiz nada disso e nem publiquei minha lista... Resolvi seguir a Luma e listar apenas os dez títulos e seus autores. De qualquer forma, linkei os títulos com páginas da internet sobre eles.

Essa não é exatamente a minha lista geral de livros para esse ano. Essa é uma lista para o clube. Para se ter uma ideia, o único livro aqui que bate com a minha lista de metas do skoob é Um Médico Rural.

1) Pedro Páramo - Juan Rulfo
2) O Ex-Mágico - Murilo Rubião
3) Um Médico Rural - Franz Kafka (livro  em PDF aqui)
4) Angústia - Graciliano Ramos
5) A Montanha Mágica - Thomas Mann (um vídeo de 25min sobre o livro aqui)
6) Histórias Extraordinárias - Poe (tem tradução da Clarice Lispector)
7) O Amor nos Tempos do Cólera - Gabriel García Márquez
8) Persuasão - Jane Austen
9) Crime e Castigo - Dostoiévski
10) A Casa das Belas Adormecidas  Yasunari Kawabata (cota para oriental)

Então, alguém já leu algum desses?! Se vc tivesse que escolher somente um da minha lista para ler hoje, qual seria? Da lista da Luma, para mim, seria O Amor nos Tempos do Cólera. Meio óbvio, já que é o único título que temos em comum.

Minha lista não está em ordem de prioridade.

terça-feira, 3 de março de 2015

Lista dos livros a serem lidos em 2015 (Luma)

Caros leitores,
estou divulgando minha lista de livros que desejo ler ao longo do ano de 2015. Como vocês irão perceber, minha lista possui um viés bem tendencioso para grandes clássicos da literatura (mundial ou nacional), mas isso não significa que eu não esteja aberta a novas experiências de leitura com autores que não são tão conhecidos. Não sei explicar o por que, mas eu desenvolvi esse gosto ao longo dos anos (e de certa eu continuo o alimentando) na minha formação como leitora. Os títulos das obras estão organizados por ordem de prioridade, no entanto mudanças nas escolhas de qual livro será lido primeiro poderão acontecer por causa das decisões que o nosso clube irá tomar em conjunto. É hora de unir interesses!

1)    O retrato de Dorian Gray (Oscar Wilde)
2)    O sonho de um homem ridículo (Conto de Dostoiévski)
3)    O amor no tempos do cólera ou Cem anos de solidão (Gabriel García Márquez)
4)    A dama com o cachorrinho ou Um negócio fracassado e outros contos de humor (Anton Tchékov)
5)    O processo ou Na colônia penal (Franz Kafka)
6)    Ópera do mortos (Autran Dourado)
7)    O retrato do artista quando jovem (James Joyce)
8)    Contos reunidos ou Lolita (Nabokov)
9)    Primeiras estórias ou Tutaméia (Guimarães Rosa)

10) O caçador de Andróide (Philip K. Dick)

Se você já leu algum desses livros e quiser compartilhar como foi sua experiência, o espaço é todo seu.
Até a próxima.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Top 10: livros com inícios marcantes

Nenhum tema poderia ser melhor para o nosso post de estréia. Eu, que adoro uma lista, tive a ideia de começar o blog escrevendo um Top 10 dos livros com inícios mais marcantes. Aqueles livros que, mesmo que você não tenha lido, sabe como ele começa! Ou que, depois de ter lido, nunca esqueceu como ele começa. Antes de ler A Metamorfose, eu já sabia que começava com o personagem acordando e se dando conta de ter se transformado em um inseto. Esse levou o primeiro lugar, mas acabou sendo substituído por outro. A lista acabou ficando assim:

10º O Complexo de Portnoy (1969) - Philip Roth

Ela estava tão profundamente entranhada em minha consciência que, no primeiro ano na escola, eu tinha a impressão de que todas as professoras eram minha mãe disfarçada. Assim que tocava o sinal ao fim das aulas, eu voltava correndo para casa, na esperança de chegar ao apartamento em que morávamos antes que ela tivesse tempo de se transformar. Invariavelmente ela já estava na cozinha quando eu chegava, preparando leite com biscoitos para mim. No entanto, em vez de me livrar dessas ilusões, essa proeza só fazia crescer minha admiração pelos poderes dela.

 Lolita (1955) - Vladimir Nabokov

Lolita, luz de minha vida, labareda em minha carne. Minha alma, minha lama. Lo-li-ta: a ponta da língua descendo em três saltos pelo céu da boca para tropeçar de leve, no terceiro, contra os dentes. Lo. Li. Ta. Pela manhã ela era Lô, não mais que Lô, com seu metro e quarenta e sete de altura e calçando uma única meia soquete. Era Lola ao vestir os jeans desbotados. Era Dolly na escola. Era Dolores sobre a linha pontilhada. Mas em meus braços sempre foi Lolita. Será que teve uma precursora? Sim, de fato teve. Na verdade, talvez jamais teria existido uma Lolita se, em certo verão, eu não houvesse amado uma menina primordial.

Grande Sertão: Veredas (1956) - Guimarães Rosa

Nonada. Tiros que o senhor  ouviu foram de briga de ho­mem não, Deus esteja. Alvejei mira em árvores no quintal, no baixo do cór­rego. Por meu acerto. Todo dia isso faço, gosto; desde mal em minha mo­cidade. Daí, vieram me chamar. Causa dum bezerro: um bezerro branco, er­roso, os olhos de nem ser — se viu —; e com máscara de cachorro. Me disseram; eu não quis avistar. Mesmo que, por defeito como nasceu, arrebi­tado de beiços, esse figurava rindo feito pessoa. Cara de gente, cara de cão: determi­naram — era o demo.

A Paixão Segundo GH (1964) - Clarisse Lispector


Clarisse Lispector
— — — Estou procurando, estou procurando. Estou tentando entender. Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem, mas não quero ficar com o que vivi. Não sei o que fazer do que vivi, tenho medo dessa desorganização profunda. Não confio no que me aconteceu. Aconteceu-me alguma coisa que eu, pelo fato de não a saber como viver, vivi uma outra? A isso quereria chamar desorganização, e teria a segurança de me aventurar, porque saberia depois para onde voltar: para a organização anterior. A isso prefiro chamar desorganização pois não quero me confirmar no que vivi - na confirmação de mim eu perderia o mundo como eu o tinha, e sei que não tenho capacidade para outro. 

O Apanhador no Campo de Centeio (1945) - JD Salinger


Capa de edição americana
Se querem mesmo ouvir o que aconteceu, a primeira coisa que vão querer saber é onde nasci, como passei a porcaria da minha infância, o que os meus pais faziam antes que eu nascesse, e toda essa lenga-lenga tipo David Copperfield, mas, para dizer a verdade, não estou com vontade de falar sobre isso. Em primeiro lugar, esse negócio me chateia e, além disso, meus pais teriam um troço se contasse qualquer coisa íntima sobre eles.

Cem Anos de Solidão (1967) - Gabriel García Márquez

Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo. Macondo era então uma aldeia de vinte casas de barro e taquara, cons­truídas à margem de um rio de águas diá­fanas que se precipitavam por um lei­to de pedras polidas, brancas e enor­mes como ovos pré-históricos. O mundo era tão recente que muitas coisas careciam de nome e para men­cioná-las se precisava apontar com o dedo.

Ana Karenina (1873) - Liev Tolstói

Todas as famílias felizes são parecidas entre si. As infelizes são infelizes cada uma a sua maneira.

Orgulho e Preconceito (1813) - Jane Austen

É uma verdade universalmente conhecida que um homem solteiro, possuidor de uma boa fortuna, deve estar necessitado de esposa. Por pouco que os sentimentos ou as opiniões de tal homem sejam conhecidos, ao se fixar numa nova localidade, essa verdade se encontra de tal modo impressa nos espíritos das famílias vizinhas, que o rapaz é desde logo considerado a propriedade legítima de uma das suas filhas.

2º A Metamorfose (1915) - Franz Kafka

Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intran­quilos, em sua cama metamorfo­seado num inseto monstruoso. Estava dei­tado sobre suas costas duras como couraça e, ao levantar um pouco a cabeça, viu seu ventre abaulado, mar­rom, dividido por nervuras arqueadas, no topo de qual a coberta, prestes a deslizar de vez, ainda mal se sustinha. Suas numerosas pernas, lastimavel­mente finas em comparação com o volume do resto do corpo, tremu­lavam desamparadas diante dos seus olhos.

Memórias Póstumas de Brás Cubas (1880) - Machado de Assis


Volume dedicado pelo próprio autor à
Fundação Biblioteca Nacional
Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a
primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no intróito, mas no cabo: diferença radical entre este livro e o Pentateuco. 


***


Procurei alguma lista do gênero na internet e acabei achando essa: 15 melhores inícios de livros. A lista é da Revista Bula e foi construída com base na opinião de leitores. De 55 livros citados pelos leitores do site, foram selecionados os 15 mais citados. A lista tem nada menos do que sete títulos em comum com a minha! Eu não copiei nenhum item, fiz a minha antes de ler o texto da revista. Prova de que são realmente livros com inícios marcantes! E claro que, sendo uma lista um pouco maior, teve maior chances de haver coincidências. 

Os únicos títulos que aparecem na minha lista e que não aparecem na da Revista Bula são Orgulho e Preconceito; Memórias Póstumas e A Paixão segundo GH. Mas para mim está bastante justificada a inclusão dos três e não de quaisquer outros.

E então, o que acharam da lista?! Espero que sirva de inspiração ou, pelo menos, que sirva para algum diálogo. Bem, já é um início...

Bem vind@s!